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quarta-feira, 9 de março de 2016

Marcelo, o presidente monarca?

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (foto-D.R.)
Segundo o jornalista Paulo Ferreira “Marcelo terá um mandato difícil. A descompressão que promete e será certamente capaz de cumprir pode ser uma ajuda mas não resolve tudo. No fim do dia, a substância das suas decisões e a forma como exercer os seus poderes serão também essenciais
A prática de “tiro ao Cavaco” foi a modalidade em que muitos adeptos se especializaram nos últimos anos. É verdade que o Presidente que sai se colocou muitas vezes demasiado a jeito, a maior parte das vezes pelo que dizia e como dizia do que propriamente pelo que fazia.
É a velha questão do “estilo”, a pose de professor de Finanças, a rigidez e distanciamento no trato, o híper formalismo, um certo conservadorismo de costumes para lá do prazo de validade, o moralismo imaculado auto-atribuido, a incapacidade para admitir erros ou falhas.
Por mais sustentadas que sejam as críticas e algum azedume em relação a Cavaco Silva - que sai de cena com baixíssimos níveis de popularidade - elas são manifestamente exageradas enquanto balanço da carreira política do homem que mais tempo deteve o poder nas quatro décadas de democracia. É demasiado cedo para fazer uma análise serena e distanciada do papel de Cavaco no Portugal contemporâneo mas uma coisa é certa: reduzir a um equívoco o contributo de quem governou o país durante dez anos - com duas maiorias absolutas - e presidiu durante outros dez não só é manifestamente anedótico como é um atestado de desprezo pelas escolhas populares.
Se o problema é, em grande parte, o “estilo” aí temos agora a antítese: Marcelo Rebelo de Sousa chegou há pouco (escrevo nesta manhã de quarta-feira) a pé ao Parlamento para a cerimónia da sua tomada de posse, quebrando todo o protocolo, vindo de casa dos pais. Foi o trajecto que tantas vezes fez quando ia para a escola, justificou”.
Arrisco prever diz Paulo Ferreira que “Marcelo será o mais próximo de um monarca que teremos na República, com uma vantagem sem preço: foi eleito pelo povo.
A proximidade e a descontração, os afectos e as “pontes”, já tantas vezes sublinhados, são bem-vindos, nestes anos que vão continuar a ser de chumbo”.
E continua: “A crispação política e partidária que se ergueu nos últimos anos, as barricadas ideológicas reais ou postiças, o extremar de posições contra alguma coisa e muitas vezes a favor de alternativa nenhuma, são dispensáveis e não devem confundir-se com as opções políticas diferenciadas que sempre se devem colocar numa democracia.
Marcelo terá um mandato difícil. A descompressão que promete e será certamente capaz de cumprir no relacionamento dos principais actores político e na reconciliação do país consigo próprio pode ser uma ajuda mas não resolve tudo. No fim do dia, a substância das suas decisões e a forma como exercer os seus poderes - os constitucionais e os informais - serão também essenciais”.